sexta-feira, 6 de abril de 2012

O Controle da situação

Eu gosto de planejar. Vivo meus dias sempre tentando antecipar os acontecimentos na tentativa de prever as reações dos envolvidos e minimizar as consequências de uma determinada situação desagradável.
Esta é uma característica útil para a minha profissão, pois é minha função estruturar o espaço pedagógico para que meus alunos aprendam cada vez mais, reduzindo os riscos possíveis do encontro de mais de 20 jovens, com suas características e dificuldades, em um sala de aula. Entretanto, esta também é uma característica que me deixa em estado de tensão constante. Parece que estou sempre me desviando das mazelas da vida, como se eu pudesse controlar não apenas a minha família e os meus alunos, mas também o mundo todo.

Bem, preciso dizer que estou um pouco cansada disso. As previsões catastróficas que povoam minha mente fértil se combinam com a necessidade que tenho de controlar os acontecimentos, isso gera uma estranha sensação de alívio quando as minhas previsões não se confirmam. É um ciclo extremamente viciante. Penso no pior; encontro as alternativas possíveis para esta situação; enfrento a situação sem medo; não acontece nada daquilo; e eu sinto como se esse processo tivesse evitado o pior.

Recentemente duas coisas mais ou menos graves aconteceram e que colocaram em discussão esse meu esquema para lidar com as situações do meu cotidiano.

Há 3 semanas eu fui fazer uma laqueadura tubária por vídeo, cirurgia ambulatória extremamente simples, e o médico achou um tumor benigno no meu ovário esquerdo e teve que remove-lo. Eu só fiquei sabendo que tinha um tumor depois que ele foi tirado, ou seja, não tive tempo de pensar que era um câncer, que eu teria que remodelar a minha vida para cura-lo, como eu ficaria sem cabelo ou qual seria o meu discurso de superação para as amigas. Nada, aquele tumor estava crescendo silencioso dentro de mim e eu seguia a minha vida independente dele. Ele foi arrancado, não deixou nenhuma sequela e eu posso continuar a viver a minha vida normalmente.

Nesta semana meu filho caçula acordou com a mão inchada, ele é alérgico a insetos e tinha feito uma trilha com a turma no dia anterior. Fui trabalhar e deixei que o meu marido levasse o menino ao médico. Em seguida ele me liga, dizendo que nosso filho teria que ser internado para cuidar de uma infecção agressiva na mão. Ao ver o meu filho segurando a mão machucada com a outra, reclamando que não queria injeção, que não queria perder a mão... por alguns segundo eu comecei a elaborar meu plano de ação... "e se ele perde a mão? o que eu vou ter que jazer para ajuda-lo a superar? o que eu vou dizer pra ele? como..." meu pensamento foi interrompido, eu precisava dizer alguma coisa pra ele, eu precisava reconforta-lo... eu precisava ser a mãe dele naquele minuto; não havia tempo para conjecturas, o momento era para ação, firmeza e amor. E foi o que eu fiz.

Nas duas situações, os desfechos foram positivos. Eu não tive um tumor maligno e meu filho já está com todas as funções preservadas na sua mão esquerda. Por isso fico me perguntando: Por que sempre sofro tanto por coisas que podem nunca acontecer? e se acontecessem, será que eu seguiriam meu planejamento?

A gente passa tanto tempo tentando constituir uma vida feliz, prazerosa e sem surpresas desagradáveis que deixa de aproveitar os pequenos prazeres da vida, que juntos constituem verdadeiramente a nossa felicidade.
Há tempos, me convenci de que o sofrimento é parte integrante da beleza de viver, pois um dia acaba e podemos aprender com ele. Mas acho que me viciei em sofrer, criando possibilidades catastróficas imaginárias que me deixavam com a falsa ideia de que a realidade pode ser controlada. Sofre é importante sim; aprender com os momentos pouco agradáveis da vida também. Mas não é em nada útil viver na expectativa de quem algo ruim vai acontecer e que vc tem que estar preparado pra isso. Primeiro porque isso não vai evitar o sofrimento e segundo porque só saberemos os instrumentos necessários para enfrentar uma situação quando ela realmente se apresentar diante de nós.

Por isso tudo, nesta páscoa, símbolo de transformações e vida, deixo um recado para quem quiser ler e principalmente para mim mesma:

A vida não pode ser controlada com previsões. Só saberemos as belezas e as dores que o futuro nos reserva enquanto continuarmos vivendo. Sempre encontraremos forças para lidar com tudo que surgir diante de nós, mas devemos guarda-las para o momento em que forem necessárias. Enquanto isso, vamos seguir nosso caminho acreditando que merecemos o melhor da vida, todos os dias.


Um comentário:

  1. Muito bom o post amor, é isso mesmo, temos de viver, o planejar é sempre uma consequência e muitas vezes não dá tempo para isso.
    Beijo.

    Cristiano Menezes.

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