terça-feira, 15 de maio de 2012

Paris e a cidade luz obscura


A Capital mórbida, que poucos conhecem, tem passeios pelos esgotos, pedras ancestrais e túmulos centenários


Paris e a cidade luz obscura Ver Descrição/Agencia RBS
A entrada das catacumbas fica na praça Denfert-Rochereau Foto: Ver Descrição / Agencia RBS
André Mags

O francês é um relações públicas. É só reparar. Tem um riozinho passando em um lugarejo, ele vai lá, coloca uma ponte, uns barquinhos, bancos e, quem sabe, até uma praia artificial. Tem uma história sobre Napoleão ter parado ali por cinco minutos para descansar sob uma árvore. Então, o francês ergue um monumento comemorativo.

Paris é isso. Ao quadrado. Não basta ter Torre Eiffel, Museu do Louvre, Jardim de Luxemburgo e Catedral de Notre-Dame, pontos turísticos visualmente identificáveis. É
preciso renovar. E como é impensável mexer nesses monumentos, parte-se para a propaganda de atrações alternativas.

A sub-Paris vive o auge de sua divulgação. Pelas ruas, meninos distribuem folhetos sobre uma estupenda visita aos dutos de esgoto parisienses, na zona do imponente e prestigiado Museu D’Orsay. A mesma garotada serve de guia na atração.

Em três pontos distintos da cidade, cemitérios atraem multidões para conhecer os túmulos de seus ilustres inquilinos – Jim Morrison, Edith Piaf, Charles Baudelaire, Serge Gainsbourg e uma tropa de celebridades.

Perto do Cemitério de Montparnasse, uma enorme fila se forma em frente à entrada das catacumbas. Em frente à Catedral de Notre-Dame, um buraco leva aos vestígios romanos de Paris. É assim que, debaixo da terra, a capital francesa diversifica o seu negócio. O cliente, nesse caso, é diferente.

Ele vai porque quer, e não por sentir a obrigação de fotografar o Arco do Triunfo, ver a Monalisa ou subir na Torre Eiffel.

Império da morte
Primeiro, os avisos. Aos cardíacos: fortes emoções. No início, pode ser. Para quem se aflige com fantasmas, as pernas podem tremer ao se deparar com a placa com os dizeres: “Pare. É aqui o império da morte”.

A entrada das catacumbas fica na praça Denfert-Rochereau. A sua concepção começou em 1785, quando o Cemitério dos Inocentes lotou e doenças se espalharam. Em 1814, a prefeitura levou para as catacumbas os restos de diversos cemitérios.

Resultado: no local há 6 milhões de almas penadas representadas
em metódicos arranjos de ossos. Caveiras, costelas e clavículas, montadas artisticamente.


Mortos ilustres
Jim Morrison recebe mais visitas do que você, mesmo morto há 36 anos. A morada do cantor da banda The Doors fica no Cemitério Père-Lachaise, leste de Paris. É uma lápide humilde, com a frase em grego: Kata Ton Daimona Eaytoy, traduzida no grego moderno (“o espírito divino está em mim”) e no arcaico (“o diabo está no meu interior”).

São também bastante visitados os túmulos do escritor Oscar Wilde, da cantora Edith Piaf, do compositor Frédéric Chopin, entre outros. Menor, o Cemitério de Montparnasse tem em seu elenco o poeta Charles Baudelaire, o dramaturgo Samuel Beckett, o filósofo Jean-Paul Sartre e a romancista Simone de Beauvoir.

Há ainda o Cemitério de Montmartre, construído em 1825. Entre os astros, os escritores Alexandre Dumas Filho, Stendhal e Émile Zola, o cineasta François Truffaut e a popular cantora Dalida.


Foto: André Mags


Os esgotos
Ainda pouco procurados, os esgotos têm infraestrutura para agradar aos turistas. Guias bem-humorados, plaquinhas explicativas, flechas e, claro, além da luz, uma lojinha no fim do túnel. O que comprar na lojinha dos esgotos? Um adorável ratinho de pelúcia, símbolo fofo de um lugar fedorento.

Porque esgoto que é esgoto, fede. E o visitante sentirá isso ao entrar no primeiro grande duto. Ao longo do trajeto há explicações sobre como a cidade foi saneada. A parte histórica fala de uma cidadela minúscula na Idade Média, que descartava seus dejetos nas ruas e se tornou obcecada em resolver essa situação.


Foto: André Mags
Fonte: www.clicrbs.com.br

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