sábado, 19 de maio de 2012

Lilith ou Eva?



A história destas duas mulheres se entrelaçam na busca da compreensão da essência feminina, marcando a presença da mulher nas sociedades de todos os tempos. Retratadas de diferentes maneiras em textos sagrados e acadêmicos, ambas fazem parte do imaginário humano.
Tanto Lilith quanto Eva foram esposas de Adão. A primeira, criada também pelo barro, não aceitou nada menos do que uma posição de igualdade e fugiu em busca de sua liberdade. A segunda, criada para preencher o espaço que Lilith deixara, a partir da costela de Adão, aceitou o estigma de pecadora levando a mulher à posição de subserviência em relação ao homem.
Assim, Lilith representa o potencial feminino para a ação; a beleza sedutora que esbanja sexualidade; a liberdade de criar e pensar; a argumentação lógica e racional cheia de passionalidade; enfim, Lilith é a explosão. Já Eva, representa o potencial feminino para o cuidar; a compreensão das nuances da realidade; a interiorização das vontades do outro; a necessidade de confortar e afagar; a argumentação conciliadora; fazendo de Eva a introspecção.
Na história da humanidade, a mulher assumiu o mito de Eva, aceitando a culpa pelo pecado orginial que tirou toda a humanidade do paraíso, iniciando um ciclo de sofrimento e dor que vivemos até hoje. A mulher, portanto, foi colocada à margem do homem, em uma posição de coadjuvante. Mesmo com este passado socio-histórico, o feminino foi ganhando visibilidade nas sociedades contemporâneas, externalizando as características de Lilith.
Por muito tempo a dualidade feminina colocava estas duas mulheres em confronto. Por um lado a mulher-objeto: que seduz, confunde, amaldiçoa... por outro a mulher-mãe: que ampara, perdoa, protege... Duas forças em posições antagônicas que expressavam extremos desconcertantes. Era preciso escolher entre a santa ou a safada; a doce ou a vingativa; a frágil ou a machorra; a idiota ou a interesseira.
Já é tempo de colocarmos essas duas mulheres em um corpo só. Cada mulher tem o direito de escolher sua porção de Lilith e sua porção de Eva e quando vai colocar uma à frente da outra. As duas juntas formam a mulher ideal que povoa os sonhos utópicos de todos os homens, mas que poucos conseguiriam manter. Mas qual mulher consegue ser sexy, atenciosa, firme, compreensiva, lutadora e pacífica ao mesmo tempo?
A vida cotidiana tende a degradar as nossas belezas, minimizando o potencial de vida que possuimos. Cabe a cada um de nós encontrar ou construir as brechas que precisamos para vivenciar plenamente o que desenvolvemos de melhor e de pior. Só assim encontraremos a Lilith e a Eva que existem em cada uma de nós.

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