Estudo inédito revelou que existem pelo menos dez subtipos de tumores
Foto:
Nobilior / Deposit Photos
Conheça seu inimigo. Graças ao desenvolvimento das tecnologias de
sequenciamento genético e biologia molecular, a máxima do filósofo e
estrategista chinês Sun Tzu, autor de "A arte da guerra", é uma arma
cada vez mais usada por médicos e cientistas na chamada medicina
personalizada. E um dos principais alvos deste ataque é o câncer, uma
das doenças que mais assustam - e matam - pessoas em todo o mundo. Há
alguns anos, por exemplo, sabe-se que o câncer de mama pode ser dividido
em dois tipos básicos, com marcadores genéticos que podem ajudar a
guiar o tratamento mais eficaz contra cada um deles. Agora, no entanto,
um estudo inédito revelou que existem ao menos dez subtipos de tumores
de mama, fornecendo um mapa ainda mais detalhado para combater a doença,
que anualmente registra cerca de 1 milhão de novos casos no planeta, 50
mil deles no Brasil.
Pela primeira vez, cientistas da Agência de Câncer de British
Columbia, no Canadá, e da Cancer UK, do Reino Unido, analisaram o DNA e o
RNA (dois tipos de códigos genéticos presentes nas células) de quase 2
mil tumores de mama recolhidos nos dois países nos últimos 20 anos e
relacionaram os dados com o histórico clínico e tratamento recebido
pelas pacientes. Com isso, eles puderam classificá-los em dez novas
categorias de acordo com seu perfil genético, além de prever quais
seriam os mais facilmente tratáveis e os extremamente agressivos, isto
é, com mais chances de reincidirem, se espalharem pelo resto do
organismo e levarem à morte. Segundo os pesquisadores, as diferenças
tanto do ponto de vista molecular quanto dos prognósticos são tão
grandes que é quase se fossem doenças completamente distintas agrupadas
sob a égide de câncer de mama.
- Com os tipos que conhecíamos já podíamos direcionar os tratamentos,
mas baseados em apenas dois marcadores principais - conta Sohrab Shah,
pesquisador da agência canadense e coautor do estudo, publicado na
edição desta semana da revista "Nature". - Agora, no entanto, temos
dados moleculares e genômicos que nos ajudam a explicar por que mulheres
com o mesmo tipo antes conhecido tinham respostas tão diferentes ao
mesmo tratamento. Isso significa que mulheres que hoje são
diagnosticadas e tratadas de uma maneira mais ou menos uniforme poderão,
no futuro, receber tratamentos guiados pela assinatura genética de seus
tumores.
Mas as vias abertas pelo estudo para o combate ao câncer de mama vão
ainda mais além, destaca Shah. De acordo com ele, a pesquisa também
revelou novos genes que, antes, não se sabiam estar relacionados ao
surgimento da doença, assim como os mecanismos que levam ao
desenvolvimento dos tumores. Com isso, ele acredita que será possível
criar novas drogas que tenham como alvo processos específicos de cada
subtipo de tumor, aumentando a eficiência das terapias. Ele reconhece,
no entanto, que o primeiro passo é criar testes confiáveis e baratos
para os médicos determinarem com qual das novas categorias de câncer de
mama estão lidando.
- Podemos vislumbrar que isso acontecerá, mas antes precisamos
pesquisar mais e é difícil dizer quando isso tudo vai estar disponível -
admite. - O importante, porém, é que hoje temos um mapa mais completo
para guiar nossa viagem, uma ferramenta que nos permite fazer
prognósticos e trabalhar na busca de diagnósticos personalizados e novas
terapias com alvos específicos.
Marcos Pinho, coordenador de pesquisa e desenvolvimento da
Progenética Diagnósticos Moleculares, lembra que já existem diversos dos
chamados medicamentos alvo-específicos desenvolvidos graças a estudos
como este. Segundo ele, mapear o perfil molecular do câncer e começar a
tratar seus subgrupos individualmente aumentam em muito a chance de uma
resposta positiva ao primeiro ataque contra a doença, com a vantagem de
reduzir os custos da terapia e de poupar o paciente do desgaste físico e
emocional de um tratamento sem resultados.
- A filosofia de um tratamento único, padrão, contra uma doença como o
câncer está caindo - afirma. - Do ponto de vista macroscópico, e mesmo
do microscópico, os tumores são muito parecidos, mas no nível molecular
eles podem ser completamente diferentes. Assim, estudos como esse são
fundamentais como pilares para direcionar tratamentos mais
personalizados. Poderemos saber não só quais alterações genéticas
levaram ao aparecimento do tumor como quais estão guiando seu
crescimento e quais remédios ou drogas, existentes ou que venham a ser
criadas em função desses estudos, são mais eficientes para atacar aquele
determinado subtipo.
Fonte: www.clicrbs.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário