A história destas duas mulheres
se entrelaçam na busca da compreensão da essência feminina,
marcando a presença da mulher nas sociedades de todos os tempos.
Retratadas de diferentes maneiras em textos sagrados e acadêmicos,
ambas fazem parte do imaginário humano.
Tanto Lilith quanto Eva foram
esposas de Adão. A primeira, criada também pelo barro, não aceitou
nada menos do que uma posição de igualdade e fugiu em busca de sua
liberdade. A segunda, criada para preencher o espaço que Lilith
deixara, a partir da costela de Adão, aceitou o estigma de pecadora
levando a mulher à posição de subserviência em relação ao
homem.
Assim, Lilith representa o
potencial feminino para a ação; a beleza sedutora que esbanja
sexualidade; a liberdade de criar e pensar; a argumentação lógica
e racional cheia de passionalidade; enfim, Lilith é a explosão. Já
Eva, representa o potencial feminino para o cuidar; a compreensão
das nuances da realidade; a interiorização das vontades do outro; a
necessidade de confortar e afagar; a argumentação conciliadora;
fazendo de Eva a introspecção.
Na história da humanidade, a
mulher assumiu o mito de Eva, aceitando a culpa pelo pecado orginial
que tirou toda a humanidade do paraíso, iniciando um ciclo de
sofrimento e dor que vivemos até hoje. A mulher, portanto, foi
colocada à margem do homem, em uma posição de coadjuvante. Mesmo
com este passado socio-histórico, o feminino foi ganhando
visibilidade nas sociedades contemporâneas, externalizando as
características de Lilith.
Por muito tempo a dualidade
feminina colocava estas duas mulheres em confronto. Por um lado a
mulher-objeto: que seduz, confunde, amaldiçoa... por outro a
mulher-mãe: que ampara, perdoa, protege... Duas forças em posições
antagônicas que expressavam extremos desconcertantes. Era preciso
escolher entre a santa ou a safada; a doce ou a vingativa; a frágil
ou a machorra; a idiota ou a interesseira.
Já é tempo de colocarmos essas
duas mulheres em um corpo só. Cada mulher tem o direito de escolher
sua porção de Lilith e sua porção de Eva e quando vai colocar uma
à frente da outra. As duas juntas formam a mulher ideal que povoa os
sonhos utópicos de todos os homens, mas que poucos conseguiriam
manter. Mas qual mulher consegue ser sexy, atenciosa, firme,
compreensiva, lutadora e pacífica ao mesmo tempo?
A vida cotidiana tende a degradar
as nossas belezas, minimizando o potencial de vida que possuimos.
Cabe a cada um de nós encontrar ou construir as brechas que
precisamos para vivenciar plenamente o que desenvolvemos de melhor e
de pior. Só assim encontraremos a Lilith e a Eva que existem em cada
uma de nós.
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