A síndrome do ninho vazio
Para preencher o vazio que fica na casa e no coração quando os filhos saem de casa vale (quase) tudo: trabalho voluntário, esporte, romance e atividades de lazer. Só não pode é deixar a depressão tomar conta
Sensação de casa vazia, refeições silenciosas, quarto sem uso. Em meio a este cenário, muitas mães associam a saída dos filhos de casa com a perda daquilo que consideram seu papel principal na vida: a maternidade.
Foi assim quando o filho caçula da dona de casa Helena
Prudente Martins de Luna avisou que viajaria para a Austrália estudar
inglês. Mesmo sabendo que dali a alguns meses Mario estaria de volta,
ela teve dificuldade em aceitar a decisão do filho. “Fiquei chateada,
aborrecida, mas não demonstrava. Dei força para ele”, diz Helena.
O baque maior para a mãe veio quando Mario
retornou do exterior e, tempos depois, anunciou que se casaria e mudaria
para a Europa. Bastante apegada ao caçula, a dificuldade em lidar com a
situação foi grande porque Mario era o último a deixar a casa dos pais.
Helena, também mãe de Marta e Marcelo, que já estavam casados há alguns
anos, ficou deprimida, emagreceu dez quilos e precisou tomar
medicamentos controlados. “Chorava à toa. Andava pela rua e achava que
ia encontrá-lo”, conta.
As mães sofrem mais quando os filhos saem de casaAssim
como Helena, muitas mulheres são acometidas pela chamada síndrome do
ninho vazio, que se caracteriza pelo sofrimento dos pais quando os
filhos deixam a casa. De acordo com um estudo realizado pela psicóloga
Adriana de Castro Ruocco Sartori, que atua no Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo e concluiu uma tese de mestrado sobre o
assunto, o problema acontece com ambos os sexos, mas são as mães que
sofrem mais com a partida dos filhos.
Na pesquisa, Sartori entrevistou 46 pessoas, sendo
50% mulheres. A psicóloga constatou que quase a totalidade delas
sofriam com a saída dos filhos de casa e de maneira mais intensa que os
homens. “Elas têm mais dificuldade de ver o filho partindo”, afirma.
Previna-se: não seja uma mãe “desempregada”Diferentemente
do que ocorre nos Estados Unidos, quando os filhos deixam a casa dos
pais por volta dos 18 anos, no Brasil, a saída do lar é motivo de
sofrimento para muitos pais e mães, especialmente aqueles que se
dedicaram de modo quase que exclusivo à educação dos filhos. “Isso acontece porque boa parte das pessoas se vê ‘desempregada’ da função de pais com a partida dos filhos”, comenta Sartori.
O psicólogo Luiz Cuschnir, que se depara com o problema a todo momento no
Gender Group
,
grupo de psicoterapia focado em problemas de gênero do Instituto de
Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo,
concorda. “São casos de mulheres que se fecharam para o mundo,
dedicando-se exclusivamente e só se alimentando afetivamente dos
filhos”, explica.
Ele
diz que nas sessões de psicoterapia do grupo procura resgatar nas
pacientes os papéis abandonados de cada uma, recuperando suas histórias
de vida e seus momentos mais importantes. “É como se acordássemos essas
mães de novo para os seus desejos”, ressalta Cuschnir.
Como a síndrome do ninho vazio afeta a vida do casalAlém de quadros depressivos, a síndrome do ninho vazio também pode afetar a vida conjugal.
Com a saída dos filhos de casa, a família
ganha um novo formato e muitos casais sofrem porque se dedicaram tanto
aos filhos que não se “encontram” novamente como parceiros.
Por outro lado, Cuschnir explica que a situação
também pode afetar positivamente o relacionamento. “O casal pode passar
a conviver mais e se aproxima. Eventualmente, aos parceiros até
aprendem a depender mais um do outro, criando rotinas que podem ser
saudáveis para a recuperação da intimidade e vivendo novas experiências
em conjunto”, diz o psicólogo.
Como lidar com a separação dos filhos: abra-se para o mundoNeste processo de recuperação de identidade,
trabalhar, estudar, praticar esportes, fazer
serviços voluntários e ter outras atividades prazerosas é, sim, um meio
de lidar a síndrome do ninho vazio.
Foi com o artesanato, o tear, o crochê e a natação que a cozinheira Mariza Petruci Romero enfrentou numa boa a saída do filho único, Renato Petruci Romero, de casa. Mãe superprotetora assumida, ela preparava a comida dele todos os dias e até fazia massagem nos pés para acordá-lo. Quando o rapaz se casou, há três anos, além do trabalho que já exercia fora de casa, ela tratou de ocupar o tempo com outros afazeres, e tirou o foco da maternidade. “Tem mãe que quer o filho só para ela, mas eu, não. Quero vê-lo amparado, com a família e a casa dele”.
Já
no caso da funcionária pública Maura Fátima dos Santos, superar a saída
dos três filhos de casa não foi tão simples assim, apesar de trabalhar
fora. Depois que Luis Fernando e Luis Gustavo se casaram, em 2009, no
ano passado foi a vez da filha caçula, Clariana, deixar o ninho e morar
em outro Estado. Bastante apegada à filha, Maura caiu em depressão. “Era
ao lado dela que eu passeava no shopping e ia ao supermercado. Perdi
minha companhia”, conta.
De
acordo com o estudo de Sartori, apesar de ser um recurso importante,
mães que trabalham fora de casa não estão “vacinadas” contra a síndrome,
porque o aparecimento do problema depende também da relação
estabelecida com os filhos e da realização como mãe e profissional. Além
disso, a aposentadoria e o início da menopausa podem agravar os
sentimentos de depressão e autoestima neste período, piorando o
problema.
Por isso, além de procurar outras atividades,
voltar-se
para a família de origem, dar mais atenção aos pais idosos e visitar os
irmãos com mais frequência também podem ajudar no processo de superação
desta fase. “O principal conselho é se preparar antes, ao longo da
vida. Quanto mais exclusiva a vida afetiva, mas vulnerável ela se torna.
Quanto mais expandida é a vida, mais elementos as pessoas terão para
se preencher”, aconselha Cuschnir.
Como saber se a tristeza está virando uma coisa mais séria
A
fase de tristeza pela saída dos filhos de casa pode durar anos até ser
totalmente superada, mas é preciso ficar atenta à intensidade deste
sentimento. Não conseguir mais sair, passar o tempo todo chorando,
perder ou ganhar muito peso são sinais alerta. “A tristeza é normal, a
pessoa leva um tempo para se conformar, mas o problema é quando há um
sofrimento exagerado”, diz Adriana Sartori.
Nestes
casos, a terapia pode ser o caminho mais indicado para superar a
síndrome do ninho vazio. É assim que mulheres como Helena e Maura estão
conseguindo vencer a depressão. “Como mãe, ainda sofro por ele estar
longe, mas o pior já passou. Hoje, penso: se ele está bem, é o que
importa”, diz Helena.
Fonte: www.ig.com.br
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