quinta-feira, 22 de março de 2012

Vivendo com quem tem Síndrome do Pânico

Cada um de nós é uma síntese de todas as experiências que vivemos até o presente momento. Nossas leituras, músicas, conversas... nossos filmes, passeios, inventos... tudo faz parte de quem somos hoje. Cada uma das vivências que tivemos tem relação com alguém que faz ou fez parte da nossa vida. Vamos moldando à nossa maneira cada palavra, cada gesto, cada ensinamento, assim vamos nos transformando.

Tive muitas influências durante meus 31 anos de existência neste mundo. Muitas me foram impostas, tive que conviver com meus pais, irmãos, filhos, tios e primos... com quem aprendi e ensinei muita coisa... Mas algumas pessoas que passaram pelo meu caminho foram escolhidas para o meu convívio... e a mais importante delas foi aquela com quem decidi dividir o espaço da casa, dos sonhos e do futuro.

Conheci o meu marido há mais de 7 anos. Trocamos mensagens em um chat, jogamos conversa fora pelo telefone, nos encontramos algumas vezes e fomos progressivamente entrelaçando as nossas vidas. Desde o começo da conversa ele já havia me falado de sua condição, mas naquele momento ter Síndrome do Pânico era um charme a mais para alguém que vivia tão intensa e produtivamente a sua vida. Uma pessoa que tem restrições severas que vêm do mais íntimo de seu ser e ainda assim estuda, trabalha, namora... enfim... vive, deve ser alguém com que vale à pena conhecer melhor.

Fui conhecendo aos poucos os detalhes da vida de quem tem essa doença. Um dia está mais animado, outro mais quieto... as vezes dormia um pouco mais, as vezes tinha insônia... não fazíamos muitos planos, pois tudo mudava num ímpeto... Não fazia isso, não gostava daquilo, não conseguia mais realizar tarefas simples do cotidiano (como andar de ônibus)... mas nada daquilo me incomodava realmente, eu me sentia casada com um super-homem que mesmo com suas limitações conseguia prover a família que crescia e ainda lidava com a esposa grávida e mimada que tinha.

Os relatos que ouvi sobre o passado dele, sobre as dificuldades que enfrentou, o preconceito e os caminhos em busca de qualidade de vida e tratamentos adequados só me traziam mais orgulho. É muito fácil viver com muitas oportunidades (como eu tive), uma vida de superações tem um brilho próprio que se emana para todos que estão ao redor, e o meu marido tinha uma estrela brilhando intensamente a seu favor, lançando oportunidades adequadas a cada dificuldade apresentada.

Mas ultimamente esse brilho anda oscilando. Muitas mudanças ocorreram em nossas vidas. Com a ajuda incansável do meu marido eu terminei a faculdade, passei em um concurso público e pude retribuir um pouco das oportunidades que ele me ofereceu. Acho que todos os compromissos dele o impediam de colocar sua doença em destaque. Ele sempre sufocava os sintomas para não assustar a mim e às crianças, por um tempo achei que ele não confia em mim, hoje sei que ele só queria me proteger.

Muitos dos sintomas voltaram com mais força. Em parte por tratamentos inadequados aos quais meu marido foi submetido, mas também em parte por ele não ter se sentido seguro ao meu lado a ponto de me pedir ajuda.

Sei que as vezes pressiono demais, as vezes sou condescendente com as dores que ele tem, mas tudo que faço é na tentativa de ajudar o homem que eu amo a reencontrar seu brilho perdido.

O pior de tudo é que não há muito mais do que a compreensão a oferecer. A estrada da síndrome do pânico é solitária, mas nós, que seguimos como coadjuvante, podemos estender as mãos em alguns momentos, lembrando que eles não estão sozinhos.

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